PADRE NATAL PIGATO
O Paraná foi civilizado por diversas etnias
oriundas principalmente da Europa. Alemães, poloneses, ucranianos, italianos,
japoneses, povos que ajudaram o Paraná a crescer e se desenvolver. Padre
Natal Pigato foi um destes imigrantes Europeu que veio contribuir para o
desenvolvimento do Paraná. Tinha uma missão definida, não veio ao Brasil
para tentar a sorte como muitos imigrantes da época faziam.
Pigato pertencia a Congregação dos
Missionários de São Carlos, conhecidos também como carlistas ou
escalabrinianos. Esta ordem religiosa foi fundada pelo Beato João Batista
Scalabrini e tem como patrono São Carlos Borromeu. A congregação tem como lema:
"Eu era estrangeiro e me acolhestes" (Mt 25,35).
Dom Pedro Fedalto, Bispo Emérito de Curitiba
traz em seu livro : "O Centenário da Colônia Rebouças" publicado em
1978 algumas datas importantes relativas ao "missionário do planalto de
Curitiba", como era conhecido (p. 100 - 102).
Natal Pigato nasceu
no dia 24 de dezembro de 1861 na região de Mason Vicentino, Província de
Vicenza na Itália.
Manifestada a vontade pelo sacerdócio, esta
foi coibida pela família, com especial interferência do tio, que dominava a
vontade da família. O tio desencorajou-o. Pigato porém não desanimou,
manteve-se sempre em oração. Cantava e conservava-se puro, não perdendo a
serenidade.
Ele renuncia a vocação para se casar, mas a
predestinação a vocação fica marcada pela tragédia. Casa-se em 1885 com
Felicidade Mottin, pressionado pela família, em especial pela mãe. Da união dos
dois nasce em 2 de março de 1887, uma menina, a qual chamam de Marina. A filha
vem a falecer, a 19 do mesmo mês, dia de São José. Um mês depois, a 18 de
abril, perdeu a esposa.
A tragédia da morte da esposa e da filha,
reforça a predestinação de Pigato a sua vocação. A morte da querida esposa e da
filha, reaviva a esperança em seguir ao chamado vocacional, fato que agora o
permite que se ordenasse. Pôde enfim seguir o chamado de Jesus à sua
vocação. Pensou seriamente. Foi ao santuário de Nossa Senhora do Monte Bérico,
conforme narra Fedalto. Rezou muito. Decidiu-se: ser Padre para dedicar-se a
serviço de Deus, em qualquer ofício. Aos vinte e seis anos de idade, em 1888,
ingressou no Seminário de Oné de Fonte, em Treviso, seminário de vocações
adultas.
Em 1892, por falta de recursos
financeiros, este seminário fechou. Mas, ao mesmo tempo, Monsenhor Batista
Scalabrini, Bispo de Piacenza, que acaba de fundar a Congregação dos
Missionários de São Carlos, a 28 de novembro de 1887, abria o seminário para a
formação dos mesmos. Natal Pigato, juntamente com Francisco Brescianini,
Faustino Consoni, Marcos Simoni, Antônio Serraglia, Antônio Segranfredo, Pedro
Dotto e outros futuros sacerdotes paras os imigrantes, transferiu-se para o
Seminário dos Missionários de São Carlos.
Feitos os
estudos eclesiásticos, foi ordenado a 31 de março de 1895, com 34 anos de
idade, por Monsenhor Batista Scalabrini, em Piacenza.
No dia de sua primeira missa, em Mason
Vicentino, o vigário disse: " Anuncio o triunfo alcançado pelo nosso
caríssimo Padre Natal Pigato. Cantou muito bem com um acompanhamento de vinte
cantores, seus companheiros de infância e trabalho. Fez o sermão, merecendo
aplausos de todos quantos admirados, viram o neo- sacerdote enfrentar o
público, como o fez".
Os imigrantes de Alfredo Chaves no Rio Grande do Sul, atual
Veranópolis, a 28 de agosto de 1895, mandavam um abaixo-assinado ao Bispo de
Porto Alegre, Dom Cláudio José Gonçalves Ponce de Leão, pedindo sacerdotes para
suas 400 famílias.
O Padre Antonio Segranfredo, de Mason Vicentino, por
sua parte, escrevia que se mandassem o dinheiro para a viagem, ele
enviaria seu colega, o Padre Natal Pigato. A notícia encheu a todos de alegria.
Tomaram as primeiras providências. Como fosse difícil mandar o dinheiro à
Europa, o próprio Padre Segranfredo colocou o nome do Padre Natal Pigato na lista
dos gratuitos.
Não obstante a boa vontade do Padre Seganfredo, Monsenhor
Scalabrini mandou o Padre Natal Pigato a São Paulo.
A 15 de novembro de 1896, embarcou para o Brasil. A
bordo, tornou-se ele um missionário zeloso, como escreveu o Monsenhor
Scalabrini.
A 14 de dezembro, chegou ao Orfanato Cristóvão
Colombo em São Paulo, onde encontrou as irmãs e os órfãos, em grande silêncio,
rezando junto à imagem de Nossa Senhora da Pompéia, pedindo saúde ao Padre José
Marchetti.
Contra as determinações dos médicos, ungiu o Padre
Marchetti, que morreu, no mesmo dia, aos 27 anos, vítima do tifo.
O Padre Natal Pigato confortou os órfãos. Escreve a
seu superior de Piacenza dizendo: "Morreu um santo, cansado e consumido
pelas fadigas, acabado pelos sofrimentos contínuos em prol de seus órfãos,
pelos quais jamais parou, nem de dia, nem de noite para dar-lhes sempre o pão
de cada dia".
Padre Natal,
recém chegado ao Brasil, sem conhecimento de ninguém, da língua e costumes,
pediu ao Bispo de São Paulo que o demitisse do cargo, escrevendo o mesmo ao
Monsenhor João Batista Scalabrini.
No mês de março de 1897, foi exonerado do cargo,
entregue ao Padre Faustino Cosoni, substituo, indo de Água Verde para São
Paulo.
O Padre José Molinari, Superior do Seminário de Piacenza,
recomendou ao Padre Natal Pigato, fosse direto a Santa Felicidade e não a Água
Verde, o que o fez, chegando a 12 de março, sendo acolhido com alegria pelo
Padre Francisco Brescianini, seu colega de seminário.
De Santa Felicidade, deslocava-se em visitas as
colônias italianas, indo até Prudentópolis, Imbituva, Colônia São Carlos na
Lapa, percorrendo mais de 30 localidades.
Padre Natal era amigo dos jovens. Queria-os puros.
Preparava-os para a primeira comunhão com três dias de retiro espiritual.
Era
Alegre, expansivo. Bem cedo, com sua aranha, passava na frente das casas,
cantarolando e convidando as pessoas em tom jocoso para irem à igreja.
Em Antonio Rebouças havia a família Gatto.
No jogo do escarabocho (cartas) mexiam com Giovanini Gatto, porque era
muito vivo. Ele se queixou ao Padre Pigato. Este respondeu rindo: E mi che so
pi Gatto, o que em Vêneto significa: e eu que sou o mais gato.
Quando pernoitava nas capelas, dormia na sacristia,
sobre duras taboas.
Era um homem
penitente, austero, cumpridor exato dos deveres. Ao raiar do dia, estava na
igreja, ou nas capelas para atender aos fiéis. Chovesse ou não o dever estava
acima de tudo. Segundo aponta Fernandes, Pigato era um sujeito que não deixa
ninguém indiferente. É descrito no livro tombo da Igreja Rondinha "como um
homem mortificado, que dormia no chão das sacristias e que madrugava para varar
a estrada". Na Estrada Velha de Campo Largo, atualmente denominada Estrada
Mato Grosso, ouvia-se o Padre andarilho assobiando as ladainhas.
Dom Pedro Fedalto
conta que o hobby do Padre Natal Pigato eram os pombos. Os colonos sempre lhe
presenteavam Pigato com estas aves.
A residência
fixa de Pigato durante muito tempo, era a Paróquia de São José em Santa
Felicidade.
Os deslocamentos do Padre eram feitos à
pé entre as Igrejas e Capelas de sua atribuição. Outros afirmam que eram feitos
a cavalo, meio de transporte comum da época. Augusto Vanin, conforme conta
Fernandes, diz: "Nada disso. Ele circulava de aranha - uma espécie de
charrete da época". Vanin era morador de uma casa localizada na Rua
Padre Alcides Zanella, na Rondinha, construída em 1906. Nesta casa, Pigato
fazia sua segunda morada. a Família de Vanin, segundo Fernandes, guarda
em seus álbuns de família lembranças do saudoso Padre Natal Pigato.
Relata Fernandes em artigo publicano na
Gazeta do Povo, que em 1915 em razão de uma forte estiagem que assolava a
região de Campo Largo, Padre Natal Pigato organizou um grande procissão. Uma
saiu da Rondinha e outra do Tucunduva. Quando chegaram a um campo chamado de
Braghetto, cerca de 600 metros da Colônia Rebouças, "caiu um pé d'água que
lava a alma até de quem conhece o fato só de ouvir falar". Neste local,
foi erguida uma cruz e décadas depois foi construída uma capela em homenagem a
Nossa Senhora Medianeira.
Este fato lhe rendeu fama de milagreiro e, entre os
mais antigos moradores de Campo Largo, como a família de Vitório Sabim e Elvira
Berton Sabim, já falecidos. Os dois quando viam se aprontar um temporal, faziam
orações pedindo a interseção de Padre Natal Pigato a Deus a fim de que
acalmasse a tempestade. Elvira acendia o seu incenso e fazia as orações. E o
temporal sempre se acalmava. Para arrematar o que estou contando, Fernandes diz
que ainda nos dias de hoje entre os campo-larguenses há quem invoque a
interseção de Padre Natal Pigato. "Mal não faz. Nunca caiu um raio no
Distrito da Ferraria" - afirma a senhora Ilda Krjzjanovski Guarezi de 74
anos. O que é também referencial para as atuais famílias que herdam dos
antepassados, como eu, a tradição. Ilda conta a Fernades, que quando
"dá uma trovoada e a gente diz: 'Padre Natal'. Passa. Se falta chuva,
fazemos o mesmo".
A 11 de
setembro de 1926, exatamente 48 anos depois da fundação da Colônia Antônio
Rebouças, faleceu, às 19 horas, na casa paroquial de Rondinha, depois de três
dias de enfermidade. Sentiu-se mal, a 8 de setembro na festa do Figueiredo, com
o alimento ingerido lá. Fez ainda um enterro em Ferraria, profetizando:
"Antonio, hoje é você, amanhã serei eu".
Foram chamados o médico e o vigário de
Campo Largo, Padre Ladislau Kula, seu grande amigo, que o ungiu. No dia 11,
parecia ter melhorado um pouco. Mas, às 19 horas, morria, serenamente, o Padre
Natal Pigato, com 65 anos de idade, 31 de sacerdócio e 30 de Brasil, passado,
quase todos o tempo no Paraná.
Ainda, no
dia 29 de agosto, realiza o último batizado na Capela de Antônio Rebouças. Era
o meu Batismo, relembra Dom Pedro Fedalto. Ele que conhecia profundamente as
duas famílias Fedalto e Marchetti, alegrou-se como o casamento de meus pais.
Não foi ele o celebrante, porque seu casamento foi realizado em Campo Comprido,
a 6 de junho de 1925, pertencente a Santa Felicidade. Quis ele acrescentar-me o
nome de Antônio, pois sendo grande devoto do taumaturgo de Pádua, gostava de
batizar os meninos com o nome de Antônio.
Quando as Colônias
italianas tiveram conhecimento da morte de Padre Natal, imediatamente, os sinos
campanários, já numerosos, começaram a tanger lugubremente.
No dia
seguinte, doze de setembro, com um cortejo jamais visto, os fiéis das Colônias
italianas, os poloneses, os brasileiros de Campo Largo e adjacências, levaram a
o corpo do Padre Natal Pigato até o Campo Comprido, um trajeto de cerca de 20
quilômetros onde foi velado, durante a noite.
No dia 13 , novamente, uma multidão de povo
seguiu a pé até Santa Felicidade, onde Padre Natal manifestou o desejo de ser
sepultado.
Fernandes conta que Augusto Vanin afirma que era notável o
poder do sacerdote em benzer as lavouras, livrando-as das pragas, dos ratos.
Nada disso se equipara a fama do Padre como pacificador da meteorologia.
Moradores da Rondinha e arrabaldes, conforme cita Fernandes, tem Natal Pigato
como Santo da Rondinha e arrabaldes.
O livro do
Clero Regular da Arquidiocese de Curitiba, à pagina 81-v, assim o descreve:
"O Padre Natal Pigato foi chorado por seu povo, que o amou e estimou como
a seu pai, pastor e mestre. soube o Padre Pigato compreender seu povo, graças a
sua alma franca e singela, a seu temperamento comunicativo e a seu zelo
apostólico. Atraia os fiéis que, corriam a ele para ouvir conselhos, receber
orientação, buscar conforto na dor. Por 30 anos, percorreu os núcleos mais
longínquos do Paraná, levando a todos os italianos os ensinamentos do
Evangelho". (PESQUISA E TEXTO EM DESENVOLVIMENTO).
Fonte:
FEDALTO, Dom Pedro. O Centenário da Colônia Rebouças. Campo Largo: 1978
FERNANDES, José Carlos. O Italiano que Liquidou a Seca. Disponível em: << http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/o-italiano-que-liquidou-a-seca-a48dc0uk8c8bdeybcibw3d64u>>. Acesso em 28 fev. 2016.
Foto do acervo de Vitorio Sabim - atualmente de posse do autor do blog.